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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Bangalô da Leprosa

-Quase dei na cara dela! – dizia aquele sujeito bêbado ao ser interrompido num provável escândalo dentro daquele “cortiço”. Cortiço é elogio! O local era medonho. Uma zona do mais baixo meretrício.
Também, logo na entrada o cartaz entregava o local, demonstrando ser nenhum pouco aconchegante!
“Promoção! 05 cervejas, grátis uma muié!”
“Muié?!? Nem escrever direito o “cartazista” sabia. Afinal de contas o erro na ortografia chamava a atenção das pessoas. Se bem que, pra falar a verdade acho que era o único que sabia escrever naquele inferno. O lugar era de assustar. Um mau cheiro, cheio de mulheres vulgares e homens bêbados. Os empregados eram todos mal-encarados e estúpidos. O freezer do bar todo enferrujado parecia que nem gelava a cerveja que era vendida a R$8,00 fora da promoção. Foi por isso que resolvi entrar naquela espelunca achando que aquele erro no cartaz realmente tinha sido pensado pelo dono daquele Bangalô.
Arranjei um banco tipo “Tamborete” e pedi uma cerveja. Uma mulher de uns 45 anos de idade ou mais, tentando ser simpática sorriu pra mim, mostrando aqueles dois dentes quebrados na boca e um bafo insuportável, perguntando: “Vai uma cerveja aí, broto?”.
Inferno! Odeio que me chamem de broto! – pensei. Mas, já estava mesmo na chuva...
A mulher ao servir, estava tentando abrir a garrafa com os dentes, quando não hesitei interrompendo-a imediatamente, abrindo a cerveja com o meu isqueiro; no qual ela observava calada e alguns instantes depois, disse: “Nossa! Como você faz isso? Me ensina ...
“Diabos”! Justo aqui que o Valdomiro marcou comigo pra gente se encontrar...
Mulheres horrorosas circulavam pelo ambiente que tocava músicas piores do que os malditos funk’s e outros forrós populares que não paravam de perturbar minha mente.
Aproximou-se uma sujeita gorda com cara de vigarista e uma ferida leprosa no braço direito. O nome dela era Marlene. Aproximou-se e; sem a minha permissão; pegou a minha mão e disse: “Vou ler a sua sorte”!
Ela abriu a palma da minha mão e com aquela prática para enrolar as pessoas, assim como fazem os ciganos, traçou um falso destino dizendo-me que eu teria um futuro brilhante pela frente, e que iria ter uma excelente vida, uma maravilhosa companheira de cabelos negros, e que moraria numa bela casa, e que teria filhos inteligentes, e que vários outros “e quês”...
Sem dar a mínima importância ao que ela dizia, puxei minha mão e dei um empurrão nela, que nem se importou comigo, mas, deu pra ouvir muito bem suas palavras de baixo calão ofendendo minha mãe, minha reputação e fidelidade da minha verdadeira esposa, dentre outros “elogios”. Depois de mais algumas cervejas sendo obrigadas a descer goela abaixo, tive vontade de ir ao banheiro enquanto permanecia naquele pardieiro. Enquanto mijava, eu lia os palavrões e recados de lésbicas e travestis na parede do único banheiro daquele sujo bordel de quinta categoria. Um terrível fedor de urina e fezes humanas assombrava aquele local que na verdade, não tinha mais o que precisasse assombrar. O vitrô quebrado arejava o cubículo cheio de fezes naquele vaso sanitário imundo.
Ao som de mais um forró, a toda hora entrava e saia um bêbado ou uma bêbada prostituta no único banheiro por causa do efeito da cerveja que mesmo sendo cara, não parava de ser consumida por aquelas pessoas.
Eu já estava naquele ambiente a mais de cinquenta minutos e nada do viado do Valdomiro chegar. Eu o xingava de todos os palavrões possíveis que minha mente conseguia imaginar e até inventava palavrões novos de tanta impaciência que aquele ambiente causava.
“Valdomiro desgraçado!”. “Valdomiro infeliz!” “Valdomiro safado!” ““Cê” me paga Valdomiro ...”
Mas não adiantava falar mal, porque aquele bêbado do Valdomiro além de não aparecer, acabava colaborando para que eu ficasse mais bêbado ainda naquele Bangalô, pois na medida em que passavam as horas, mais eu bebia pra tentar esquecer o pânico naquele “fim de mundo”.
De repente começa uma briga e um monte de garrafas de cerveja e cadeiras voam pra todo lado. Uma gritaria tomava conta dali. Pessoas corriam e pelo menos umas quatro garrafas vieram em minha direção. Alguém sacou de um revolver e começou a disparar tiros à queima-roupa em um sujeito folgado com cara de “playboy”, pois a essa altura era só isso o que estava faltando para as pessoas da mais completa classe de bandidos e gente à toa que ali freqüentavam, arranjar um motivo para acabar de estragar tudo naquele bar nojento. Aí não deu outra. Várias pessoas correram em minha direção e derrubaram-me quando sem ver, bati a cabeça no chão e fui parar no hospital. Abrindo os olhos perguntei a enfermeira: “Como eu vim parar aqui?” Ela educadamente me disse que eu havia sido encontrado no chão, inconsciente, após ter sido atropelado por um motoqueiro. “Motoqueiro?” – perguntei-me pensando... Ela continuou: “É! Você foi atropelado por uma moto e teve estes ferimentos e escoriações na perna esquerda, mas com essa faixa e os medicamentos receitados você ficará melhor! Agora vê se descansa! Vou ver se o médico já te deu alta”.
“Mas, e o Bangalô da Leprosa?...” Nem tive tempo de perguntar!
Quando me dei por conta vi que estava sonhando. Só consegui perceber que era um pesadelo quando o Sr. Paulo que estava no leito ao lado, disse-me que eu havia delirado durante a madrugada toda e não parava de falar num tal de Bangalô!
Pensei: “Caracas!” “Então não passou de um sonho!”
Mas tive um “prejú”! Minha perna esquerda se machucou. Confuso, entendi que minha sorte não estava boa. Fiquei deitado enquanto aguardava a enfermeira trazer notícias da alta. Depois de algumas horas eu havia cochilado quando, chegou uma outra enfermeira meio gorda me acordando com cautela para não me assustar.
“Acorde, senhor! Assine estes papéis. O senhor está de alta!”Li o seu nome no crachá e tive um mal súbito. Assinei correndo a papelada e apressei-me para sair o mais depressa possível daquele hospital.
...

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