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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O Resgate Errado

No bairro onde eu moro acontece de tudo. Também, aqui é uma periferia. Na cidade do Rio de Janeiro, chamariam de subúrbio, e no outros lugares seríamos interioranos. Não porque os bairros nobres sejam melhores, porém são muito bem planejados. É nítida a organização urbana das grandes cidades. Agora o resto, meus amigos, vão se construindo bairros sem nenhuma organização. Não precisa ser também um bairro lotado de favelas, mas em favelas ou cortiços existem muitos moradores que infelizmente não têm condições de morar em outros lugares. E aqui no meu bairro é assim, um misto de favela com cortiços, um amontoado de casas, sobrados, puxadinhos, etc.
Aqui acontece cada tipo de coisa que ninguém acredita, mas vou contar agora um caso que aconteceu aqui.
Estávamos eu e um amigo conversando, sentados na calçada em frente de casa, quando passou um conhecido da gente e nos cumprimentou. Ele levava à mão dois alto-falantes. Aqueles de colocar no tampão traseiro de automóveis. Perguntei o que iria fazer com eles, e prontamente o sujeito respondeu: “Vou colocar no meu fusca”. “Mas eu nem sabia que ele tinha carro” – pensei – e o meu amigo ao lado ainda disse depois que ele já ia indo: “Ué? Ele nem sabe dirigir!”.
E realmente ele não tinha carro, muito menos a carteira de habilitação. Passado alguns instantes, ficamos eu e meu amigo, olhando um para o outro, sem achar resposta que fizesse algum sentido ao vermos aquela inusitada cena.
Logo mais tarde, depois de um longo bate papo, nos despedimos e combinamos de marcar uma pescaria num final de semana depois que eu voltasse de viagem. Eu iria fazer um estágio na filial de Goiás, da fábrica onde trabalhava e ficaria por lá durante quatro meses, mas pelas necessidades da empresa acabei ficando sete meses. Depois desse tempo, já de volta, eu havia retomado as minhas rotinas do dia a dia.
Fui até o portão depois do jantar, quando de repente, eis que passa pela nossa rua o rapaz com um fusquinha vermelho, ano setenta e dois, eu acho. Algumas pessoas começaram a correr ao vê-lo passar. Na verdade ele tinha um grande prazer em realizar o seu sonho. Aprender a dirigir. Só que esta euforia causava certa tristeza em seus familiares. Com muito custo, conseguiu comprar seu carro, mas não sabia dirigir direito e, para piorar ainda mais a situação, só dirigia embriagado. Para as crianças era uma festa em ver as finas que ele tirava dos outros carros estacionados. Fiquei do meu portão observando atentamente e vi que, realmente era perigoso aquele carro em suas mãos, pois ele colocava em risco a sua vida e também a vida das outras pessoas, ao dirigir o seu carro naquele estado.
No primeiro fim de semana que tive folga no trabalho, fui até a casa do meu amigo, para ver se ele estava a fim de pescar no domingo bem cedinho. Era sexta-feira e a noite estava bem agradável, sinal de que, o fim de semana seria de bastante calor e aproveitaríamos bem, caso a pescaria fosse confirmada.
Ele morava no próximo quarteirão. E bem próximo de chegar à esquina, eu ouvi vozes e pessoas correndo atrás de mim. Num ímpeto, pelo susto que levei, atravessei a rua correndo e fui parar do outro lado da calçada, quando finalmente consegui olhar pra trás. Foi pura sorte minha. Aquele fusca vermelho vinha numa velocidade acima do que se podia andar na minha rua. Num ziguezague vinha o carro, e logo as pessoas que já tinham se acostumado com o estado do motorista ficaram atônitos, assim como eu, sem sabermos o que poderia acontecer.
Duas mobiletes vinham na direção contrária, pois tinham acabado de dobrar a esquina. Pensei: “Meu Deus!”. Algumas pessoas fecharam os olhos, outras olharam para o lado. Os meninos da mobilete, ao invés de frear e tentar desviar para a direita fizeram ao contrário, viraram à esquerda. O fusquinha tinha os pneus carecas. Mas o motorista naquele dia não estava bêbado. Ele freou o carro, porém derrapou na mesma direção das mobiletes. Os meninos caíram no chão. Um não se machucou. O outro teve um ferimento leve e queimou-se ao encostar a perna no escapamento da motoca. O carro nem chegou a colidir com as mobiletes, mas como os pneus estavam bastante lisos, na derrapagem bateu no portão de uma casa a uns dois metros antes com relação à distância das mobiletes.
O barulho da batida do carro no portão não causou espanto às pessoas. A sorte é que não tinha ninguém naquele momento na calçada. O portão amassou bem. O motorista não se machucou e ao sair do carro, na medida em que as pessoas se aproximavam para ver o prejuízo que acabara de causar no portão daquela casa. Enquanto algumas pessoas davam assistência aos meninos deitados ao chão, outros curiosos se amontoavam para ver o estado do carro amassado e de como ficara o portão. Ninguém chegou a discutir de maneira áspera com o motorista. Eu fui ver um dos rapazes que estava no chão que sentia dores na perna esquerda. Devido à contusão e após a queda, ele teve um corte de uns dez centímetros, que certamente, precisaria levar alguns pontos para fechar o ferimento sofrido.
Uma mulher atravessou a rua do outro lado da esquina e foi em direção a um orelhão para chamar uma ambulância, depois de muita gente repetir a mesma coisa: “Chama o resgate, chama o resgate!”.
É chato ter que dizer que foi engraçado, mas depois de muita demora o “resgate” apareceu. Era um caminhão do corpo de bombeiros com um pequeno bote em cima. Sim, é isso mesmo que estou dizendo. Um caminhão do corpo de bombeiros com um pequeno barco em cima. Um policial desceu do caminhão e, ao ver de que não se tratava de uma ocorrência que ele pudesse atender, limitou-se a perguntar aos rapazes se agüentariam mais algum tempo, pois pelo rádio do caminhão ele mesmo iria acionar uma ambulância para atender o rapaz que precisava ir ao pronto-socorro. Lamentavelmente depois de ver tudo isso, resolvi ir embora, até porque não tinha sido tão grave aquele acidente. E antes de chegar à casa do meu amigo para combinarmos sobre a pescaria, só consegui chegar a uma conclusão. A mulher que telefonou do orelhão, ao invés de discar 193 discou 192.

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