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quarta-feira, 23 de abril de 2008

Uma Má e Ligeira Impressão

Tinha acabado de terminar a reunião do sindicato dos maquinários agrícolas, quando o decrépito vice-presidente chamou o João da expedição e disse: “O chefe ligou dizendo que precisa de todo o material para a eleição de sábado. Passe urgente na minha sala!”. João, recém contratado assustou-se, mas tratou de atender prontamente a ordem. Em um minuto já estava em frente à sala do vice. Chegando ao gabinete, a secretária - uma daquelas que não tem vontade de fazer nada – falava ao telefone. João disse que o vice-presidente o aguardava. Ela pediu para ele esperar. Enquanto João aguardava, ficou olhando os cartazes, no mural de informativos. A mulher parecia nunca terminar aquela conversa ao telefone. Ele percebeu que ela estava discutindo com alguém. Provavelmente parecia ser com o “ex”. Quando ela parava de falar ao telefone, para ouvir o que o “ex” falava do outro lado da linha, dava a impressão de estar ficando cada vez mais irritada.
A conversa parecia não ter mais fim e João já estava ficando impaciente. Tentou interromper a conversa, mas ela fazia gestos para que aguardasse, dando sinais de que já estava terminando a ligação. Já havia passado uns vinte minutos e João ficando também irritado, não estava conseguindo conter-se, preocupado com o chefe a esperá-lo. Como não havia jeito e a “briga” por telefone iria estender-se provavelmente até a hora do almoço, sem outra escolha João tentou mais uma vez interromper. A secretária dizendo que já iria terminar e João não tolerando e nem podendo mais aguardar, pois estava ali assistindo a discussão por quase meia hora, contornou a mesa, fingindo que iria pegar um café. Simulou um tropeço nos fios de telefone e cabos de rede de informática e “caiu” bem em cima do aparelho do telefone, desligando-o.
A secretária furiosa e com a cabeça quente e “aquecida para mais discussões” falou cobras e lagartos para o pobre operário que não tinha a menor culpa, mas ainda teve educação e postura de dizer que o chefe aguardava-o para tratar do assunto da eleição de sábado. Ela dissimulou por alguns instantes e depois de se recompor, disse que iria anunciar sua presença ao vice. João sentou-se num dos bancos da recepção e aguardou. Ficou pensando: “Não tenho nada a ver com a briga dessa gorda com seu “ex”. Coitado do marido dela deve ter sofrido muito na mão daquela baleia”. Saindo da sala, ela disse para ele aguardar mais um pouco, pois seria atendido assim que o chefe terminasse uma ligação. Mais meia hora se foi. João agora já aflito pegou uma revista e começou a folhear sem nenhum interesse nas matérias. Nem as mulheres de biquíni de uma publicidade de lançamento da coleção de primavera/verão atraíram a atenção dos olhos daquele operário já cansado de tanto esperar.
Finalmente quando João conseguiu entrar na sala do chefe já foi tomando logo um “esporro”. “Por onde você andava? Eu te pago pra você ficar fazendo hora aqui no sindicato? Estou com um compromisso inadiável com o presidente e você me aparece aqui com mais de uma hora de atraso?”... - Se eu tivesse no lugar do João adivinha o que eu responderia e pra qual lugar eu mandaria o vice? - Quando tudo se acalmou e depois de ter engolido a seco mais meio quilo de cobras e lagartos e também vários sapos, João recebeu as ordens e tarefas do chefe. Teria que imprimir todo o material da campanha: os questionários, as cédulas de votação, os panfletos. Tudo no menor tempo possível. Era cinco mil a quantidade de cada impresso.
Chegou à sua seção e falou para seu supervisor sobre sua tarefa. Ele disse que tinha muito serviço e não poderia ajudar. João pediu ajuda a um colega que deu a desculpa de estar comprometido com o registro de novos afiliados. Um terceiro colega da seção, não pôde ajudá-lo, pois estava com afastamento por acidente de trabalho e com os devidos papéis para dar entrada na perícia. Outros três colegas de seção também deram desculpas esfarrapadas para não ter que ajudá-lo. João ficou numa situação desolada, sentindo-se em estado de abandono.
Faltava somente um dia e meio para a eleição do sindicato e João em estado de desespero arregaçou as mangas e disse: “Seja o que Deus quiser!”. Sentou em frente ao computador e começou a elaborar os layouts dos impressos, naturalmente dedicando todos os turpilóquios em pensamento: ao vice, à secretária, ao supervisor, aos colegas da seção e até à alguém que passasse e lhe perguntasse as horas. Depois de algumas horas os layouts ficaram prontos. Saiu da sua seção e foi em vários departamentos com a autorização da diretoria para imprimir os materiais de campanha. Deixou os questionários imprimindo em diversos setores. Porém como o caderno de questões era de quatro folhas, o volume de impressão era imenso. João fez as contas de cabeça e calculou que para concluir o trabalho de impressão dos questionários levaria praticamente quase todo o tempo que restava até a eleição. As impressoras trabalharam sem parar até o final do expediente e, levaria todo o dia seguinte para concluir a impressão. Ainda restavam os panfletos e as cédulas de votação para serem impressas. No final do dia um terço dos questionários já estavam prontos. Antes de ir para casa João não sabia o que fazer para imprimir os outros dois trabalhos. Como não teve jeito, levou os panfletos para imprimir em casa, pois só teria mais um dia útil - sexta-feira – para concluir o trabalho do material da eleição. Como dava para imprimir quatro panfletos por folha, nem pensou no prejuízo que teria com as folhas de sulfite e com o tonner da sua impressora, porque depois, o sindicato teria que ressarci-lo de qualquer jeito - pensou.
Ficou até 02:35 horas da madrugada imprimindo e recortando os panfletos da eleição. Sua mulher reclamando a noite toda o deixou atônito com os educadíssimos e motivadores comentários, do tipo: “Como o João é trouxa!”, “Puxa saco!”, “Me levar de carro ao mercado, ele não leva!”, “Imprestável!”. - E por aí vai... João foi dormir tarde, mas terminou mais da metade dos panfletos.
Levantou-se bem cedo. Estava com olheiras e um sono descontrolado, mas era o último dia que restava para concluir o trabalho. Chegando ao sindicato, colocou os questionários para serem impressos nos departamentos e deu seqüencia nos trabalhos. Utilizou quatro impressoras para imprimir os questionários e outra para concluir os panfletos. Se nada acontecesse conseguiria terminar os questionários até ao final do expediente e como para imprimir os panfletos acabaria bem mais rápido, só restariam as cédulas de votação para serem impressas. Pensou: “Moleza! Oito cédulas são impressas em cada folha. Uma resma e mais um pouco e tudo estará terminado.”
O trabalho ia fluindo bem. De tempos em tempos, o vice ia dar uma olhada nas impressoras fiscalizando o trabalho. João trabalhando com as suas rotinas da expedição, também olhava de vez em quando a impressão dos questionários. O vice, impaciente ficava contando quantas folhas eram impressas por minuto. Tirava algumas folhas das bandejas para ver os questionários impressos. Em um dado momento chamou o João e disse: “Imprima estas folhas de novo. Ficaram tortas”. João tinha que parar o que estava fazendo, colocar mais papel na bandeja e reimprimir mais folhas. A toda hora o vice colocava defeito nas impressões e lá vai João reimprimir mais folhas. E de novo. Umas oito vezes foram poucas. Teve uma hora que o vice mexeu em uma das impressoras e no display aparecia a mensagem: Paper Jam (Papel Atolado). João bufando com a “pentelhação” do vice teve que desmontar uma impressora que tinha fragmentos de papeis no cilindro. Já quase na hora do almoço, João ainda não tinha terminado nem a metade dos questionários, quando uma das impressoras “travou”. “Se não fosse o maldito vice ficar mexendo nas impressoras, nada disso teria acontecido” – pensou enfurecido. Antes de ir almoçar teve que interromper a impressão dos panfletos para substituir a impressora que travou. - “Graças ao vice”.
João foi almoçar e até teve congestão devido à raiva que passou por causa do “mala”. Retornando, foi dar uma olhada nas impressoras e tudo estava normal. Depois de ter passado mais de uma hora, percebeu que nada havia acontecido. Telefonou para a secretária do vice e foi informado de que ele tinha saído para a última reunião do sindicato para tratar dos assuntos das eleições do dia seguinte. Ele pensou aliviado: “Graças a Deus! Pelo menos ele não vai mais atrapalhar e nem colocar defeito nos questionários impressos!”. E tratou de ir montando os questionários que já estavam prontos e embalando-os para que não pudessem ser vistoriados pelo vice, que provavelmente iria colocar algum defeito.
Faltavam menos de três horas para o final do expediente e João começou a ficar preocupado com o horário. Se o vice não retornasse, e nenhuma impressora desse mais defeito, ainda passaria do horário do expediente e também ainda faltavam as cédulas de votação para serem impressas. João fez de novo as contas e viu que faltaria pelo menos uma hora e quinze minutos para concluir a impressão dos questionários. As cédulas seriam impressas no máximo em meia hora. Resolveu telefonar para casa avisando que chegaria mais tarde. Sua educada e compreensiva mulher repetiu praticamente os mesmos “elogios” da noite anterior, acrescentando ainda mais calúnias e dizendo que ele estava mentindo. Dizia com uma irritante voz ao telefone: “Olha, João Leocádio Nabantino Ferreira, você está cada vez mais arranjando desculpas com o trabalho, não fica mais comigo em casa, não cuida das crianças, sempre sai com os amigos para pescar, jogar bola, sair de carro sozinho, etc. e blá blá blá ...”
João nem quis escutar mais o restante porque aquela mulher só irritava e desligou o telefone.
Faltava menos de meia hora para encerrar o expediente e já estava concluído quase noventa por cento do trabalho. João nessa hora já nem se preocupou mais, pois o chefe não voltaria mais para o sindicato. A mulher dele já estava avisada. E ainda mais sendo chata, ele nem se importava em chegar mais tarde em casa. Avisou na portaria aos seguranças que ainda continuaria na sua seção depois do expediente. Quatro mil e novecentas folhas já estavam impressas. Faltavam apenas 25 questionários para serem impressos, ou seja, 25 folhas em cada impressora e os questionários já estariam prontos. João só teria que imprimir as cédulas e em mais meia hora, tudo estaria resolvido. Começou então a fazer contagem regressiva acompanhando o término da impressão dos questionários. Dezoito, dezessete, 16, 15, 14, 13, 12, 11, 10... De repente...

TCHUMMMMM!!!!!


Acabou a energia elétrica.......

João ficou completamente sem saber o que fazer.
E agora!!!!

Embalou assim mesmo os questionários e disse:
“Que se dane!” Ninguém vai saber mesmo se estão faltando ou não alguns questionários!”

Os panfletos não tinham sido impressos por completo, mas mesmo assim, João embrulhou faltando algumas centenas de panfletos.

Mas e as cédulas de votação?

João teve um calafrio!

Como poderia de deixar de imprimir o mais importante?
Justo a impressão das cédulas?
O principal da eleição!!!

João “pensou” bem alto: “Estou fudido!”

Pensou vários minutos Teve uma Luz e uma grande idéia.

.........

Depois de rodar as cédulas, embrulhou-as por último e deixou um bilhete com todas as instruções na mesa do vice-presidente.

........

“Caro Senhor Vice-Presidente!
Fiz um Download especial na Internet para imprimir com mais eficiência o trabalho que você solicitou. Pode deixar que a impressora que você quebrou eu conserto na segunda-feira.
Os drivers que baixei para rodar as cédulas depois eu desinstalo do computador.
Boa eleição!

Saudações

João Leocádio Nabantino Ferreira
Auxiliar de Expedição”



No sábado a festa da eleição foi tratada com muitos elogios pelos participantes.
Um dos eleitores comentou:
“Bonita a impressão das cédulas! Também com esta tecnologia, os técnicos conseguem até alterar a cor do tonner das impressoras”.
E todos concordavam admirando o trabalho do João. Mal sabiam eles que João rodou as cédulas utilizando um Mimeógrafo.

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